A cirurgia da tireóide é um procedimento comum realizado para tratar diversas condições que afetam essa glândula crucial. Compreender as indicações, os exames necessários, o pós-operatório e os riscos envolvidos é fundamental para quem considera ou irá realizar esse procedimento.
Nesta seção, o Dr. Ricardo Amim da Costa detalha as informações essenciais sobre a cirurgia da tireóide.
1. O Que é a Cirurgia da Tireóide?
A cirurgia da tireóide, ou tireoidectomia, compreende diferentes procedimentos para remover parte ou toda a glândula tireóide:
- Ressecção de Nódulo Separadamente: Remoção apenas do nódulo específico.
- Tireoidectomia Parcial: Remoção de uma parte da glândula.
- Tireoidectomia Total: Retirada completa da glândula tireóide.
2. Quando a Cirurgia da Tireóide é Necessária?
A decisão de realizar uma cirurgia na tireóide é individualizada e baseada em diversos fatores. As principais indicações incluem:
- Suspeita ou Confirmação de Malignidade: Quando há nódulos tireoidianos com suspeita ou confirmação de câncer.
- Sinais de Compressão ou Desconforto:Quando o tamanho da tireóide ou dos nódulos causa compressão de estruturas vizinhas (traqueia, esôfago), levando a sintomas como:
- Dificuldade para respirar
- Dificuldade para engolir
- Rouquidão
- Bócio Volumoso com Problema Estético: Em casos de aumento significativo da glândula (bócio) que gera um problema estético ou desconforto.
- Hipertireoidismo: Em alguns casos de hipertireoidismo que não respondem a outros tratamentos.
3. Exames Realizados para Avaliar a Tireóide
Para interpretar as alterações na tireóide e definir a necessidade de cirurgia, é essencial uma avaliação médica completa:
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Consulta com Endocrinologista: O primeiro passo é uma consulta com um especialista, que fará uma anamnese detalhada (história clínica) e um exame físico, incluindo a palpação da tireóide.
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Exames Complementares:
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Exame de Sangue com Dosagem de Hormônios Tireoidianos:
- TSH (hormônio tireoestimulante): Indicador primário da função tireoidiana.
- T4 livre (tiroxina): Mede a forma ativa do hormônio tireoidiano.
- Em alguns casos, T3 (triiodotironina) também pode ser solicitado.
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Ultrassonografia da Tireóide:
- Avalia a presença de nódulos tireoidianos.
- Fornece informações cruciais sobre tamanho, localização e características dos nódulos (forma, bordas, ecogenicidade, presença de microcalcificações), auxiliando nas decisões cirúrgicas.
- O Doppler associado ao ultrassom mostra a vascularização dos nódulos, o que pode ajudar a diferenciar nódulos benignos de malignos.
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Punção Aspirativa com Agulha Fina (PAAF) Guiada por Ultrassonografia:
- É o melhor exame para determinar se um nódulo é benigno ou maligno, coletando células do nódulo para análise citopatológica.
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Cintilografia da Tireóide:
- Neste exame, o paciente ingere um comprimido ou líquido com uma pequena quantidade de iodo radioativo (I-131).
- Ajuda a avaliar a funcionalidade dos nódulos (se são "quentes" – produtores de hormônios – ou "frios" – não produtores) e a presença de tecido tireoidiano.
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4. Todos os Nódulos da Tireóide Precisam de Cirurgia?
Não! O tratamento depende fundamentalmente dos resultados dos exames. A maioria dos nódulos tireoidianos é benigna e não necessita de cirurgia, apenas de acompanhamento clínico regular. Nódulos na tireóide são muito frequentes, principalmente em pessoas acima dos 50 anos de idade.
5. O Que Acontece Depois de uma Cirurgia da Tireóide?
O período pós-operatório varia conforme a extensão da cirurgia e a condição original do paciente.
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Reposição Hormonal:
- Na maioria dos casos, especialmente após uma tireoidectomia total, o paciente precisará de reposição hormonal com levotiroxina (hormônio tireoidiano sintético), em forma de comprimidos, por toda a vida.
- Em tireoidectomias parciais ou em casos de nódulos isolados e benignos, pode ser que o restante da glândula consiga manter a produção hormonal normal, não sendo necessária a reposição imediatamente, mas exigindo acompanhamento periódico dos níveis hormonais.
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Consultas de Pós-Operatório: É essencial dar continuidade às consultas com um endocrinologista ou cirurgião de cabeça e pescoço para monitoramento e ajustes.
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Risco de Hipocalcemia (Baixo Cálcio no Sangue):
- As glândulas paratireoides, que regulam o metabolismo do cálcio, estão localizadas muito próximas à tireóide. Durante a cirurgia, elas podem ser lesionadas ou, em casos de tireoidectomia total, podem ter seu funcionamento temporariamente comprometido.
- Isso pode levar à queda de cálcio no sangue (hipocalcemia), com sintomas como formigamento (especialmente ao redor da boca e nas mãos/pés), contração muscular e, em casos graves, convulsões.
- A reposição de cálcio e vitamina D pode ser necessária e deve ser avaliada por um médico.
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Em Casos de Nódulo Maligno:
- Após a cirurgia para remoção da glândula e, por vezes, dos gânglios linfáticos adjacentes acometidos pelo tumor (procedimento conhecido como "esvaziamento cervical"), os pacientes podem receber iodo radioativo (Iodo-131).
- O objetivo é destruir restos tumorais e restos de células sadias da tireóide que possam ter permanecido no pescoço.
- Após esse procedimento, os pacientes passam a ter hipotireoidismo e necessitam da reposição de hormônios tireoidianos na forma de comprimidos ao longo de toda a vida.
6. A Cirurgia da Tireóide Tem Riscos?
Como qualquer intervenção cirúrgica, a cirurgia da tireóide envolve riscos, embora o índice de complicações seja relativamente baixo (0,4% a 5%). Os riscos mais comuns incluem:
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Alterações da Voz:
- Pode ocorrer por lesão do nervo laríngeo recorrente, que é responsável pelos movimentos das cordas vocais e está muito próximo à glândula tireóide.
- Pode variar de uma rouquidão temporária a uma alteração permanente.
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Hematoma:
- Pode haver um acúmulo de sangue no local da cirurgia, formando um hematoma.
- Cursa com dor e, em casos mais graves, dificuldade para respirar.
- Precisa ser avaliado imediatamente pelo cirurgião. Às vezes, é necessária uma nova cirurgia de urgência para drenagem.
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Hipocalcemia:
- Ocorre por lesão nas glândulas paratireoides (conforme explicado acima) ou pela retirada total da tireóide, levando à baixa de cálcio no sangue.
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Cicatriz no Local da Cirurgia:
- Na maioria das vezes, as cicatrizes são discretas e ficam bem posicionadas na dobra do pescoço.
- Em pessoas com tendência à formação de queloide (cicatriz elevada e saliente), a cicatriz cirúrgica pode ser uma complicação estética.
- A exposição direta ao sol deve ser evitada por um período de até 4 meses após a cirurgia para garantir uma melhor cicatrização.
Todas as pessoas que irão fazer uma cirurgia de tireóide devem estar cientes desses riscos e discuti-los detalhadamente com seu médico.
Fonte: Sociedade Brasileira de Cirurgia de Cabeça e Pescoço - SBCCP