Diabetes Gestacional (DMG): Um Guia Completo para Gestantes

O Diabetes Mellitus Gestacional (DMG) é uma condição comum que afeta muitas gestantes. Compreender seus riscos, o diagnóstico e a importância do tratamento é fundamental para a saúde da mãe e do bebê.
Nesta seção, o Dr. Ricardo Amim da Costa esclarece as principais dúvidas sobre o tema.
1. O Que é Diabetes Mellitus Gestacional (DMG)?
DMG é uma intolerância aos carboidratos de intensidade variada que se inicia ou é detectada durante a gestação. Ela pode ou não persistir após o parto, e ocorre em aproximadamente 1% a 14% de todas as gestações.
Durante a gravidez, a elevação de diversos hormônios, como o lactogênio placentário, estrógenos, progesterona, prolactina e cortisol, juntamente com o aumento de peso corporal, favorece o aumento da resistência à insulina nos tecidos periféricos.
Isso significa que a insulina não consegue agir adequadamente, obrigando o pâncreas a aumentar a produção desse hormônio para conseguir transportar a glicose para dentro das células. Se a gestante já possui uma predisposição genética (um "pâncreas mais fraco"), esse ambiente gestacional pode antecipar o desenvolvimento do diabetes.
3. Quem Tem Mais Propensão a Desenvolver o DMG? (Fatores de Risco)
Alguns fatores aumentam o risco de uma gestante desenvolver DMG:
- Idade: Gestantes com mais de 30 anos.
- Obesidade: IMC igual ou maior que 30 kg/m² antes ou durante a gravidez.
- História Previa: Gestação anterior com DMG ou história de filhos nascidos com mais de 4 kg.
- Genética: História de diabetes em familiares de 1º grau.
- Condições Médicas:
- Exame de urina de rotina mostrando perda de glicose.
- História prévia de abortamentos espontâneos.
- Portadoras da Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP).
- Uso de corticosteroides.
- Glicemia Elevada: Glicemia de jejum maior ou igual a 85 mg/dl antes ou no início da gestação.
4. Como é Feito o Diagnóstico do DMG?
Todas as gestantes com fatores de risco devem ser rastreadas para DMG:
- Ao diagnóstico da gravidez (geralmente no primeiro trimestre).
- Entre a 24ª e a 28ª semanas de gestação.
O rastreamento inicial é feito com a avaliação da glicemia 1 hora após uma sobrecarga oral de 50g de glicose.
Se a glicemia estiver acima de 140 mg/dl, solicita-se o Teste de Tolerância Oral à Glicose (TTOG) com 75g de glicose. As glicemias são dosadas em jejum e 1 e 2 horas após a ingestão de um líquido adocicado (dextrosol a 75g).
O diagnóstico de Diabetes Mellitus Gestacional é confirmado se dois ou mais resultados do TTOG estiverem iguais ou acima dos seguintes valores:
- Glicemia de Jejum: 95 mg/dl
- Glicemia após 1 hora: 180 mg/dl
- Glicemia após 2 horas: 155 mg/dl
5. Como Deve Ser Feito o Tratamento do DMG?
O tratamento do DMG exige uma abordagem multidisciplinar e engloba:
- Acompanhamento Regular: Com uma equipe composta por endocrinologista, obstetra, nutricionista e educador físico.
- Orientação Nutricional: Essencial para o controle da glicemia e do peso.
- Atividade Física Moderada: Com liberação médica (ex: caminhada, hidroginástica, pilates).
- Metas Glicêmicas: Manter a hemoglobina glicosilada (HbA1c) menor que 6%.
- Monitorização da Glicemia Capilar: Especialmente se houver uso de insulina.
- Controle do Ganho de Peso durante a gestação.
- Controle da Pressão Arterial: Meta de pressão menor que 130x80 mmHg.
- Medicações: Quando necessário, a insulina é a preferência, podendo considerar antidiabéticos orais em casos específicos e sob estrita avaliação médica.
6. Quais São as Metas que Indicam um Bom Controle do DMG?
Um bom controle do Diabetes Mellitus Gestacional é indicado pelas seguintes metas de glicemia:
- Glicemias de jejum e pré-prandial: entre 80 a 110 mg/dl.
- Glicemias 2 horas pós-prandial: abaixo de 155 mg/dl.
- Hemoglobina glicada (HbA1c): menor ou igual a 6%.
7. Por que Deve Ser Bem Tratado o DMG? (Complicações)
O tratamento adequado do DMG é crucial para prevenir riscos e complicações que podem afetar tanto a mãe quanto o bebê.
- Aumento do líquido amniótico (polidramnio).
- Parto prematuro.
- Maior tendência à hipertensão arterial na gravidez (toxemia gravídica/pré-eclâmpsia).
- Maior tendência a infecções urinárias.
Complicações Fetais (para o Bebê):
- Abortamento espontâneo.
- Óbito intrauterino.
- Malformações congênitas.
- Macrossomia (alto peso ao nascer), o que pode levar a traumas durante o parto.
- Hipoglicemias (baixa de açúcar) no recém-nascido.
- Icterícia (amarelão) no recém-nascido.
- Síndrome do estresse respiratório no recém-nascido.
8. Cuidados no Pós-Parto para Pacientes que Tiveram DMG
Após o parto, algumas medidas importantes devem ser adotadas:
- Aleitamento Materno: Deve ser estimulado, pois além dos benefícios para o recém-nascido, ajuda a mãe na redução de peso pelo maior gasto calórico.
- Controle Glicêmico Imediato: A grande maioria das mulheres não necessitará mais do uso de insulina ou medicação após o parto, mas é interessante manter o controle glicêmico com glicemias capilares por um certo período. Em alguns casos, a insulina pode ser mantida com ajuste das doses.
- Prevenção de Diabetes Tipo 2: Devido ao alto risco de desenvolver diabetes tipo 2 futuramente, é essencial adotar mudanças no estilo de vidaa longo prazo, incluindo:
- Dieta mais saudável.
- Atividade física regular.
- Manutenção do peso corporal adequado.
- Acompanhamento periódico das glicemias e hemoglobina glicada.
- Um novo Teste de Tolerância à Glicose (TTOG) deve ser realizado 6 meses após o parto para reavaliar a condição metabólica.