Hipertireoidismo: Entenda, Sintomas e Opções de Tratamento  



A tireóide, uma glândula fundamental para o nosso metabolismo, pode, em alguns casos, funcionar de forma acelerada, produzindo hormônios em excesso. Essa condição, conhecida como hipertireoidismo, afeta diversas funções do corpo.

Nesta seção, o Dr. Ricardo Amim da Costa esclarece o que é o hipertireoidismo, suas causas, sintomas e as diferentes abordagens para o tratamento.


1. O Que é a Tireóide?

A tireóide é uma glândula localizada na região anterior do pescoço, abaixo da cartilagem conhecida como pomo de adão ou gogó. Essencial para o bom funcionamento de todas as células do nosso corpo, ela produz dois hormônios principais:

  • T3 (triiodotironina)
  • T4 (tiroxina)

Esses hormônios não possuem uma ação específica, mas são vitais como auxiliares no trabalho de todas as células, atuando desde as unhas dos pés até os cabelos e regulando nosso metabolismo de forma geral.


2. O Que é Hipertireoidismo?

O hipertireoidismo é uma doença caracterizada pela alta produção de hormônios tireoidianos (T3 e T4). Com uma quantidade aumentada desses hormônios, as células do nosso corpo passam a trabalhar de forma acelerada, rápida e desorganizada, resultando em um metabolismo acelerado.

2.1. Tipos de Hipertireoidismo:

  • Hipertireoidismo Primário: O problema na produção excessiva dos hormônios está diretamente relacionado à própria glândula tireóide.
  • Hipertireoidismo Secundário: O excesso de produção hormonal da tireóide é causado por um problema em outra glândula, a hipófise. O excesso do Hormônio Estimulador da Tireóide (TSH), produzido pela hipófise, faz com que a tireóide aumente a produção de T3 e T4.

2.2. Classificação de Acordo com Exames Laboratoriais:

  • Hipertireoidismo Franco: Os exames laboratoriais mostram valores de T3 e/ou T4 acima da referência, e TSH abaixo dos valores normais de referência.
  • Hipertireoidismo Subclínico: O exame de TSH está com valores abaixo do normal, mas os níveis de T3 e/ou T4 estão dentro dos valores de referência. Isso indica que a glândula tireóide está funcionando em excesso, mas não a ponto de produzir diariamente uma quantidade aumentada de seus hormônios. Nesta fase, geralmente, as pessoas têm poucos sintomas ou são assintomáticas.

2.3. O Papel do TSH: Por Que Ele Fica Abaixo do Normal no Hipertireoidismo?

Como explicado, o TSH não é produzido pela tireóide, mas sim pela hipófise. Essa glândula, localizada no centro da cabeça, é o centro de comando de várias outras glândulas (tireóide, ovários, testículos, suprarrenais, etc.).

No caso do hipertireoidismo, a tireóide já está produzindo hormônios em excesso. A hipófise, ao perceber essa alta concentração de T3 e T4 no sangue, diminui drasticamente a produção de TSH na tentativa de "frear" a tireóide e reduzir sua atividade. O TSH é o "mensageiro" nesse processo de feedback.


3. Por Que a Tireóide Produz Hormônios em Excesso? (Causas do Hipertireoidismo)

A produção excessiva de T3 e T4 pela tireóide pode ter diversas causas:

  • Doença de Graves (ou Hipertireoidismo de Graves): Na grande maioria das vezes, a causa principal é um desequilíbrio do sistema imunológico. Anticorpos específicos (ex: TRAb), que deveriam defender o corpo, atacam inadvertidamente as células da tireóide, ligando-se aos receptores de TSH e estimulando a glândula a produzir T3 e T4 em excesso. Esta é uma doença autoimune.
  • Nódulos Tireoidianos "Quentes": Alguns nódulos na tireóide podem produzir hormônios T3 e T4 de forma autônoma e aumentada. São identificados como "quentes" no exame de cintilografia tireoidiana.
  • Medicamentos: Certos medicamentos, como a amiodarona (rica em iodo) e o lítio, podem estimular a tireóide a funcionar mais que o normal, levando ao quadro de hipertireoidismo.
  • Tireoidites:
    • Tireoidite Crônica de Hashimoto: Embora seja a principal causa de hipotireoidismo, na fase inicial da inflamação, pode haver uma liberação transitória de hormônios estocados na glândula, resultando em um período de hipertireoidismo.
    • Tireoidite Subaguda: Outros processos inflamatórios da glândula podem cursar com um período de hipertireoidismo que, na maioria das vezes, é transitório (durando de 3 a 6 meses).
  • Hipertireoidismo Idiopático: Em algumas situações, o paciente apresenta hipertireoidismo, mas a causa específica não é detectada.

4. Hipertireoidismo e Gravidez

Minha obstetra pediu exame de TSH no início da gravidez e houve diminuição da concentração na corrente sanguínea. Isso é considerado hipertireoidismo?

Não necessariamente. Pode se tratar apenas de uma queda fisiológica do TSH durante o primeiro trimestre da gestação. Isso ocorre porque o beta-HCG, hormônio produzido pela placenta, possui uma semelhança estrutural com o TSH e, assim, estimula a tireóide a produzir um pouco mais de T3 e T4 no início da gravidez. Essa adaptação é fundamental para o bom desenvolvimento do feto.

Por outro lado, é crucial uma avaliação médica aprofundada. Se a gestante apresentar exames muito alterados ou sintomas de metabolismo muito acelerado, pode ser que ela esteja realmente sofrendo de hipertireoidismo e necessite de tratamento adequado.


5. Quais os Sintomas do Hipertireoidismo?

Devido ao aumento acentuado do metabolismo, uma pessoa com hipertireoidismo pode apresentar as seguintes queixas:

  • Perda de peso, apesar de estar comendo mais que o habitual (aumento do apetite).
  • Nervosismo, irritabilidade, ansiedade.
  • Fraqueza muscular.
  • Intestino mais solto (aumento da frequência de evacuações).
  • Pele mais oleosa, sudorese excessiva.
  • Sensação constante de calor (intolerância ao calor).
  • Palpitações cardíacas ou taquicardia (batimentos mais acelerados).
  • Tremores nas mãos.

Sintomas Específicos da Doença de Graves:

No caso de hipertireoidismo causado pela Doença de Graves (tireoidite autoimune), também podem aparecer:

  • Bócio: Aumento difuso da glândula tireoidiana, causando um inchaço no pescoço.
  • Exoftalmia: Olhos mais salientes ou "arregalados", dando um olhar "assustado".

Importante: Em muitos casos, os pacientes podem não apresentar sintomas, ou os sintomas podem ser atípicos, especialmente em idosos.


6. Termos Comuns Relacionados ao Hipertireoidismo

6.1. O Que é Bócio?

O bócio, também conhecido como papo, é um aumento acentuado do volume da tireóide, causando abaulamento do pescoço. No hipertireoidismo, o bócio pode ocorrer na Doença de Graves devido ao estímulo de anticorpos que se ligam aos receptores do TSH, promovendo o crescimento das células tireoidianas.


7. Tratamento do Hipertireoidismo

Sim, o hipertireoidismo tem tratamento! Existem três formas principais de abordar a condição:

7.1. Medicamentos:

  • Antitireoidianos: Existem dois medicamentos principais que bloqueiam a tireóide na produção excessiva de hormônios:

    • Metimazol (Tapazol)
    • Propiltiouracil (PTU)
  • Beta-Bloqueadores: Em alguns casos, são usados medicamentos para diminuir os efeitos do excesso de hormônios tireoidianos no organismo (ex: propranolol, atenolol), aliviando sintomas como palpitações e tremores.

    • Características: Esse tratamento, chamado conservador, geralmente dura 2 anos ou mais. Há uma possibilidade de retorno da doença (recorrência) em 50% dos casos em até 5 anos após a suspensão dos medicamentos. Pacientes podem não tolerar os efeitos adversos desses medicamentos.

7.2. Iodo Radioativo (Iodo-131):

  • Indicação: Após o diagnóstico da causa do hipertireoidismo (principalmente Doença de Graves), o tratamento com iodo radioativo é uma opção eficaz para a remissão completa da condição.
  • Como funciona: Consiste na ingestão de um líquido rico em iodo acoplado a moléculas radioativas. Após ser absorvido, o iodo se concentra na tireóide, causando uma queima lenta e gradual de seu tecido, o que reduz a produção excessiva de hormônios.
  • Inconveniente: O maior inconveniente é o possível desenvolvimento de hipotireoidismo após o tratamento. No entanto, o tratamento do hipotireoidismo é mais simples e menos impactante na saúde em comparação aos efeitos do hipertireoidismo não controlado.

7.3. Cirurgia da Tireóide (Tireoidectomia):

  • Indicações:Por envolver mais riscos que o tratamento com iodo radioativo, a cirurgia é mais indicada em situações específicas, como:
    • Pacientes com contraindicações ao tratamento medicamentoso e/ou ao iodo radioativo.
    • Bócio muito volumoso.
    • Exoftalmia grave.
    • Presença de nódulos tireoidianos suspeitos ou adjacentes.

8. Preciso Tratar Mesmo Sem Sentir Nada?

A necessidade de tratamento, mesmo na ausência de sintomas, deve ser avaliada criteriosamente caso a caso pelo médico.

  • Tratamento Necessário: Em pacientes idosos com alta probabilidade de desenvolver problemas cardíacos, naqueles que já apresentam tais problemas, ou em portadores de osteoporose, o tratamento é necessário mesmo que não haja sintomas aparentes.
  • Observação: Nos demais pacientes que não apresentam nenhum sintoma de hipertireoidismo e cujas alterações laboratoriais não são significativas, pode-se optar por uma observação e acompanhamento evolutivo. Se, durante esse acompanhamento, surgirem sintomas ou houver piora laboratorial significativa, o tratamento será instituído.

Importante: Somente o médico é capaz de avaliar a necessidade e a modalidade adequada de tratamento para cada paciente.

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